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| Foto: Divulgação |
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalizou dois projetos de lei que devem ser enviados ao Congresso Nacional nos próximos dias, com o objetivo de regulamentar a atuação das plataformas digitais no Brasil. As propostas foram elaboradas pelos ministérios da Justiça e da Fazenda e procuram dar novos contornos ao debate, evitando a polêmica sobre desinformação e priorizando a proteção de crianças, adolescentes e consumidores.
Bases na decisão do STF
A iniciativa se apoia na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de junho, sobre o artigo 19 do Marco Civil da Internet. O tribunal entendeu que plataformas digitais devem remover de forma proativa conteúdos ilícitos considerados graves, como terrorismo, pornografia infantil, incitação ao suicídio, tráfico de pessoas, discriminação e pedidos de golpe de Estado.
As empresas poderão ser responsabilizadas se não adotarem medidas adequadas de prevenção ou se deixarem de agir com diligência e transparência. O texto prevê ainda punições progressivas em caso de descumprimento reiterado, que vão de advertências e multas até a suspensão temporária das atividades por até 60 dias, sempre condicionada a decisão judicial.
Proteção de crianças e adolescentes
O projeto elaborado pelo Ministério da Justiça traz uma seção específica para a proteção do público infantojuvenil. Entre os pontos estão:
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proibição de criação de contas por crianças;
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obrigatoriedade de vinculação de contas de adolescentes até 16 anos a responsáveis adultos;
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restrições a atividades digitais como apostas, jogos online, hospedagem e conteúdos pornográficos;
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exigência de mecanismos de controle parental, que permitam aos responsáveis monitorar o uso das redes sociais;
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obrigação de retirar do ar conteúdos de exploração sexual infantil, terrorismo, incitação à automutilação e ao suicídio.
A proposta também abrange golpes e fraudes virtuais, apontados pelo governo como um dos problemas mais graves para a economia popular.
Regras de transparência e direitos do consumidor
Inspirada na lógica do Código de Defesa do Consumidor, a proposta do MJ exige das plataformas:
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criação de serviço de atendimento ao cliente (SAC) e canais de denúncia;
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maior clareza nos termos de uso;
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combate a dark patterns (mecanismos digitais que manipulam usuários);
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identificação de contas automatizadas;
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limitação do recurso “auto play” em vídeos;
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protocolos de crise e relatórios de transparência periódicos.
A lógica central é afastar a visão das plataformas como “meras intermediárias” e reforçar sua responsabilidade como fornecedoras de serviços digitais.
Aspectos econômicos e concorrenciais
Já o projeto da Fazenda foca em questões de mercado e amplia os poderes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para investigar práticas anticompetitivas das grandes empresas de tecnologia. A proposta prevê a classificação de companhias como “sistemicamente relevantes”, levando em conta o número de usuários, o volume de dados coletados e a fatia de mercado ocupada.
O modelo segue experiências internacionais, com destaque para o Digital Markets Act (DMA) da União Europeia, que busca limitar práticas monopolistas e fortalecer a concorrência no ambiente digital.
Contexto político
O tema da regulação, considerado sem viabilidade há poucos meses, voltou ao centro da pauta após a repercussão de um vídeo do influenciador Felca, que expôs casos de pedofilia na internet. O episódio ampliou a pressão por medidas de proteção a crianças e adolescentes, argumento que o governo avalia ser capaz de construir consenso inclusive com setores da oposição.

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