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| Weverton Julião é advogado e colunista do Blog do Bruno Muniz - Foto: Assessoria |
Agora, com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de ex-militares envolvidos, o país respira um pouco mais aliviado. Mas não inteiro. Restam cicatrizes profundas na sociedade, que não se apagam com uma decisão judicial.
Fica uma certeza: não existem salvadores da pátria. A aposta no discurso de “salvação nacional” foi apenas a roupagem de um projeto autoritário, que usou o medo como combustível, a desinformação como arma e tentou reescrever o papel das Forças Armadas. Esse projeto foi derrotado primeiro pelas urnas e, agora, pela lei. Ainda assim, deixou para trás um rastro de ódio e divisão que não será facilmente superado.
O Judiciário, por sua vez, embora tenha cumprido seu papel, não sai ileso. A condução do processo foi, no mínimo, questionável: vítima, investigador e juiz muitas vezes pareciam se confundir em uma mesma figura. Muitos brasileiros enxergam seletividade, ativismo e até autoritarismo no modo como o Supremo atuou. Essa percepção popular, ainda que por vezes distorcida, fragiliza a confiança coletiva — e confiança é o que sustenta uma democracia viva.
O que sobra para o Brasil é um quadro de sobrevivência: escapamos do abismo autoritário, mas seguimos presos entre instituições desacreditadas, uma política regada por emendas e uma sociedade partida em dois. A lição que fica é clara: não podemos idolatrar políticos, nem aceitar que juízes se tornem protagonistas permanentes da cena pública.
A democracia não se constrói só com vitórias de tribunais, nem com derrotas de golpistas. Ela se constrói no cotidiano, com diálogo, respeito e a certeza de que, apesar de você, amanhã será outro dia — e o Brasil ainda quer amanhecer.
Weverton Mercês Julião - Advogado

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