Brasil tem menor taxa de fecundidade da história e vê maternidade cada vez mais tardia, aponta Censo 2022

Imagem Ilustrativa

Desde 2010, o Brasil mantém sua taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição populacional, índice de 2,1 filhos por mulher, necessário para garantir a estabilidade populacional ao longo do tempo. De acordo com o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, a média nacional caiu para 1,5 filho por mulher, refletindo uma tendência de transformações profundas na estrutura etária e nos padrões de crescimento demográfico do país.

A pesquisadora Marla Barroso, do IBGE, destaca que a queda da fecundidade está diretamente ligada ao envelhecimento da população e à transformação da pirâmide etária nacional. Segundo ela, o declínio da taxa teve início na década de 1960, sobretudo nas regiões mais desenvolvidas do Sudeste e entre mulheres com maior escolaridade nas áreas urbanas, fenômeno que se espalhou por todo o país nas décadas seguintes.

Queda generalizada nas regiões

O Sudeste, que já em 2000 atingia a taxa de reposição (2,1 filhos por mulher), registrou em 2022 a menor taxa do país: 1,41. O Sul, com trajetória semelhante, fechou o mesmo ano com 1,50. No Centro-Oeste, a taxa foi de 1,64. Já o Nordeste, que em 1970 ainda apresentava aumento na fecundidade, atingiu 1,60 em 2022, também abaixo da média nacional. O Norte, apesar de apresentar o maior índice (1,89), também está abaixo do patamar de reposição.

Entre os estados, Roraima é o único com taxa acima da reposição populacional: 2,19 filhos por mulher. Na sequência, aparecem Amazonas (2,08) e Acre (1,90). Já Rio de Janeiro (1,35), Distrito Federal (1,38) e São Paulo (1,39) têm as menores taxas do país.

Mulheres estão tendo filhos mais tarde

Outro dado relevante é o adiamento da maternidade. A idade média da fecundidade no Brasil aumentou de 26,3 anos em 2000 para 28,1 em 2022. A tendência é nacional: no Norte, a média foi de 27 anos, enquanto no Sudeste e no Sul chegou a 28,7 anos. O Distrito Federal apresentou a maior idade média (29,3 anos), e o Pará, a menor (26,8 anos).

Cresce o número de mulheres que não têm filhos

O percentual de mulheres entre 50 e 59 anos que chegaram ao fim da idade reprodutiva sem filhos também aumentou. Em 2000, era de 10%. Subiu para 11,8% em 2010 e saltou para 16,1% em 2022. No Sudeste, chegou a 18%, e no Norte, passou de 6,1% para 13,9%. O Rio de Janeiro apresentou o maior índice (21%), enquanto o Tocantins teve o menor (11,8%).

Religião, raça e escolaridade influenciam padrões

O recorte por religião mostra que as mulheres evangélicas apresentam maior fecundidade (1,74 filhos por mulher), acima da média nacional. Os menores índices foram observados entre espíritas (1,01), seguidoras de umbanda e candomblé (1,25), além de mulheres sem religião (1,47) e católicas (1,49).

Entre os grupos raciais, as mulheres indígenas têm a maior taxa (2,8), acima da reposição populacional. Pretas e pardas também estão acima da média nacional, com 1,6 e 1,7 filhos por mulher, respectivamente. Já as mulheres brancas registram taxa de 1,4, e as de origem asiática, 1,2.

A idade média da maternidade também varia: é de 29 anos entre as brancas, 27,8 entre as pretas e 27,6 entre as pardas.

Escolaridade impacta diretamente a fecundidade

O levantamento confirma a correlação entre nível de escolaridade e número de filhos. Mulheres com ensino superior completo têm, em média, 1,19 filho. Já aquelas sem instrução ou com fundamental incompleto apresentam taxa de 2,01 filhos. Nas demais faixas: mulheres com ensino fundamental completo ou médio incompleto têm taxa de 1,89; e aquelas com ensino médio completo ou superior incompleto, 1,42.

A idade média da fecundidade também sobe com o nível de instrução: mulheres sem escolaridade têm filhos aos 26,7 anos, enquanto as com ensino superior, aos 30,7.

Para Izabel Marri, gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, o acesso à informação e aos métodos contraceptivos são decisivos. “A mulher com mais escolaridade sabe melhor onde buscar informações e fazer suas escolhas”, destaca.

O cenário traçado pelo Censo 2022 revela um país em plena transformação demográfica, com desafios crescentes para políticas públicas voltadas à população envelhecida e à redução das desigualdades regionais e sociais.

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