Cursos de Engenharia enfrentam baixa qualidade e perda de matrículas; MEC anuncia reformulação e proíbe ensino totalmente à distância

Imagem Ilustrativa

Diante de índices preocupantes de qualidade e queda contínua no número de matrículas, os cursos de Engenharia no Brasil passarão por uma ampla reformulação. A partir de 2025, não será mais permitida a oferta integral desses cursos na modalidade à distância, segundo anunciou o Ministério da Educação (MEC). A decisão ocorre paralelamente à implementação de novas diretrizes de avaliação para o ensino superior.

Em 2023, os cursos de Engenharia registraram o menor número de matriculados desde 2011, com cerca de 894 mil estudantes — uma redução expressiva em relação aos 1,25 milhão registrados em 2015. A baixa adesão é atribuída, entre outros fatores, à defasagem dos currículos, à dificuldade de aprendizagem em disciplinas como matemática e à desconexão entre o ensino acadêmico e as exigências do mercado de trabalho.

Vinicius Marchese, representante do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), destaca que o país sofre com a escassez de profissionais qualificados. “As nossas universidades não formam engenheiros conforme a demanda do mercado. Após se graduarem, muitos ainda precisam passar por processos de capacitação dentro das empresas”, pontua.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) irá adotar novos critérios de avaliação para os cursos da área. A proposta prevê a análise de estruturas laboratoriais, qualidade tecnológica das instituições, presença de ambientes e insumos voltados à prática profissional, conexões com a sociedade e contribuição para a disseminação da educação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) na formação básica.

Outros aspectos como sustentabilidade, atualização curricular e inserção dos estudantes no mercado de trabalho também serão considerados. Para isso, uma comissão foi instituída com o objetivo de propor objetos de avaliação específicos para os cursos de Engenharia e revisar os referenciais de qualidade vigentes.

As mudanças integram uma política mais ampla do MEC, que elencou Engenharia, Medicina e Educação como áreas prioritárias para a reestruturação dos instrumentos avaliativos, hoje padronizados para todas as graduações.

O MEC confirmou ainda que, a partir do novo marco regulatório da educação à distância — já assinado —, os cursos de Engenharia não poderão mais ser ofertados integralmente no formato remoto. Em 2023, 32% dos estudantes cursavam Engenharia nessa modalidade, frente aos 8% registrados cinco anos antes.

A nova proposta prevê uma modalidade semipresencial, com 40% da carga horária em atividades presenciais obrigatórias; 20% em aulas presenciais ou on-line ao vivo, com número limitado de alunos por turma; e os 40% restantes à distância, respeitando critérios pedagógicos rigorosos.

Rafael Barbastefano, diretor científico da Associação Brasileira de Engenharia de Produção, avalia que a mudança pode ser benéfica. “A maior carga horária presencial pode trazer vantagens, desde que bem implementada do ponto de vista pedagógico. O impacto na evasão, no entanto, ainda precisa ser monitorado”, alerta.

Os dados mais recentes do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) revelam um panorama preocupante. Na Engenharia Mecânica, 50% dos cursos avaliados obtiveram notas 1 ou 2 (em uma escala de 1 a 5), o que indica baixa qualidade. Na Engenharia Civil, 44% das graduações ficaram abaixo do conceito 3, considerado o mínimo aceitável.

A consulta pública para a validação das novas diretrizes está prevista para ocorrer ainda neste semestre, após a entrega das propostas finais por parte da comissão designada.

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