Governo brasileiro acompanha taxação de aço e alumínio pelos Estados Unidos

Donald Trump. Foto: Divulgação
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) monitora com atenção e cautela a decisão dos Estados Unidos de impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio, conforme anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, no último domingo (9). Na noite de segunda-feira (10), a Casa Branca confirmou a medida e forneceu detalhes adicionais sobre sua implementação.

Impacto para o Brasil:

A ordem executiva assinada por Trump determina uma tarifa de 25% sobre todas as importações norte-americanas desses materiais, atingindo diversos países. O Brasil, que figura entre os principais exportadores de aço para os EUA, ao lado de Canadá e México, será diretamente impactado pela medida.

No primeiro mandato de Trump, tarifas semelhantes foram impostas, gerando preocupação no setor industrial brasileiro, com algumas empresas chegando a anunciar demissões. Contudo, na ocasião, o governo norte-americano recuou, suspendendo a cobrança desses impostos.

A nova rodada de tarifas visa proteger as indústrias locais dos Estados Unidos, mas levanta preocupações sobre seu impacto no comércio internacional e possíveis efeitos inflacionários.

Reação do governo brasileiro:

Diante da decisão norte-americana, o governo brasileiro ainda não tomou medidas concretas, embora o presidente Lula tenha afirmado recentemente que o Brasil adotaria a reciprocidade em caso de taxação de seus produtos. “Se ele [Trump] taxar, haverá reciprocidade do Brasil com os produtores brasileiros. Não tem nenhuma dificuldade”, declarou Lula durante uma conversa com jornalistas no Palácio do Planalto.

No entanto, até o momento, o Palácio do Planalto, o Itamaraty e os ministérios setoriais têm acompanhado os desdobramentos sem definição de respostas imediatas. A diplomacia brasileira observa com atenção a estratégia adotada pela presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, que conseguiu negociar com Trump uma trégua tarifária ao adiar por um mês a imposição de tarifas sobre os produtos mexicanos, em troca do envio de tropas para a fronteira com os EUA para conter a imigração ilegal e o tráfico de drogas.

Contexto da guerra tarifária de Trump:

Desde o início de seu segundo mandato, em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tem adotado uma política protecionista, iniciando uma nova rodada de tarifas sobre importações, afetando inicialmente produtos do Canadá, México e China. Agora, a União Europeia também está na mira dessas medidas.

Embora Brasil não estivesse entre os primeiros alvos da política tarifária de Trump, a recente decisão impacta diretamente o país, que em 2024 foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA. Em termos de balança comercial, o Brasil registrou um déficit de US$ 253,3 milhões na relação com os Estados Unidos no último ano, com exportações totalizando US$ 40,3 bilhões e importações somando US$ 40,6 bilhões.

A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, ressaltou que os dois países possuem uma relação histórica e laços econômicos significativos. Segundo ela, o superávit comercial norte-americano deveria ser levado em consideração pelos agentes do mercado. “As relações profundas entre os dois países, vínculos empresariais importantes e o comércio intrafirma são fatores que deveriam garantir que a relação comercial entre Brasil e EUA fosse preservada e até fortalecida neste novo cenário”, afirmou.

Expectativa para os próximos passos:

O governo brasileiro segue em reuniões ao longo desta terça-feira para avaliar os próximos passos. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, encontra-se na França, participando da Cúpula para Ação sobre Inteligência Artificial. Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi o primeiro integrante do governo a se pronunciar sobre o tema, afirmando que o Brasil aguardará uma decisão oficial antes de qualquer manifestação definitiva. “O governo vai se manifestar oportunamente com base em decisões concretas, e não em anúncios que podem ser mal interpretados ou revistos”, explicou Haddad.

O vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, reforçou a importância do diálogo e mencionou que, em episódios anteriores, cotas foram estabelecidas para mitigar os impactos. “Acreditamos muito no diálogo. Isso já aconteceu antes, mas foram definidas cotas. Nossa relação comercial com os EUA é equilibrada e benéfica para ambos os lados”, pontuou.

Indústria nacional e preocupação com impactos:

Até o momento, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) optou por não se manifestar oficialmente. Da mesma forma, as associações setoriais, como o Aço Brasil e a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), mantêm postura cautelosa, embora internamente demonstrem preocupação com os impactos da decisão.

Dados do MDIC revelam que a exportação de minérios representou quase metade do volume total de vendas do Brasil para os EUA no ano passado, evidenciando a relevância do setor para a economia nacional. O governo segue monitorando o desdobramento das medidas e eventuais possibilidades de negociação.

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