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Foto: Asscom |
Aos leigos essas novidades tecnológicas são entusiasmantes. Qual pai, que não teve a chance de usar um computador na infância, não se emocionaria vendo seu filho ganhar um tablet numa escola pública? Qual jovem não arregalará os olhos ao receber das mãos do prefeito ou do secretário de Educação o equipamento numa solenidade? O que é essencial acompanhar e saber, no caso da rede municipal de ensino do Recife, é se há um diagnóstico feito pelas próprias escolas sobre seus desempenhos, para apontarem – se é que apontaram – a necessidade de aquisição desses insumos para a melhoria de seus indicadores.
Onde acessar o projeto político-pedagógico de cada escola, uma questão essencial e legal, prevista desde 1996 na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB? Essa questão exige resposta e é cada dia mais importante, se observarmos os princípios da administração pública inscritos na Constituição Federal e na Lei Orgânica do Recife, a Constituição da cidade. O que deve partir da escola, ancorado no arcabouço legal e pedagógico vigente no país, como referência para a atuação dos gestores, tem os sinais trocados pela ação irresponsável de muitos governantes, entusiasmados por novidades tecnológicas ou por interesses outros, sobretudo quando há dispensa de licitação envolvendo valores milionários.
Esses atores da administração passaram a ser o centro de decisão. Cumpra-se, compre-se e pronto. Depois a propaganda é espalhada da forma mais acintosa possível, sem que se saiba como o uso do bem entregue será avaliado e onde vai, de fato, incidir na melhoria da qualidade da educação pública no Recife. Sem isso não há modernidade tecnológica nem inclusão digital. Sem isso o que há, na verdade, é uma brutal irresponsabilidade educacional e financeira. Dinheiro jogado fora. Quem não tem plano municipal ou estadual de educação não tem diagnóstico, quem não tem diagnóstico não colhe indicadores e, por isso, não sabe de forma precisa onde vão resultar suas ações, gastando mal e, até de forma ilícita (e/ou não republicana), o dinheiro público destinado à manutenção e ao desenvolvimento do ensino.
Os defensores desse modelo, em geral, são arrogantes e antidemocráticos, incapazes de reconhecer o papel da escola pública na construção do conhecimento e de práticas sociais cidadãs, bem como o protagonismo de seus integrantes nessa direção. Sua ação, como já disse, é uma irresponsabilidade travestida de competência técnica, célere quando se trata de prestigiar o interesse privado das vendas milionárias sem licitação, reprovável, contudo, quando se trata de fortalecer o interesse público, a ação legal e social na construção da escola pública de qualidade.
Felizmente, não há mal que dure para sempre. Está aí a História para provar.
Por: Paulo Rubem Santiago/Texto publicado no Blog da Folha